Felizes
para Sempre? poderia ser lembrada pelas curvas e o derrière da
estonteante Paolla Oliveira, mas a história contada foi isso e muito mais! O
enredo de Felizes não é nada mirabolante, porém, a direção, a escolha
do elenco e cenas de tirar o fôlego fizeram desta minissérie uma das melhores
dos últimos anos. Tendo Brasília como pano de fundo, quatro casais vivem seus
dramas cotidianos emaranhados em corrupção e traição. O quinto elemento da
trama é quem vai desestabilizar todos os casais envolvidos: Cláudio/Marília;
Hugo/Tânia; Joel/Susana; Dionísio/Norma.
Dionísio
e Norma Drummond são os pais de Cláudio, Hugo e Joel, sendo este, filho
adotivo. Os irmãos são casados com mulheres bonitas e bem resolvidas, se bem
que Marília incorpora a aura de reprimida, mal-amada, sofredora. Infeliz
sexualmente no seu casamento, ela e o marido, o grande empreiteiro corrupto,
resolvem contratar uma garota de programa para apimentar a relação morna e
claudicante de uma união de 20 anos, que conta com uma tragédia - a perda do
filho afogado na piscina da própria casa. Neste cenário mórbido e imbuído de
muita dor, aparece a luxuosa profissional do sexo - Danny Bond.
No
desenrolar da trama, vimos Danny/Denise/Simone envolver-se com o casal
milionário e também com o irmão mais novo. Sem que um soubesse da traição do
outro, uma explosão de sensualidade tomou conta da história com cenas picantes
entre Danny e Cláudio, e direito a banho de cachoeira em um paraíso do planalto
central. Danny e Marília protagonizaram momentos de extrema sexualidade e
delicadeza, o que fez da abordagem homossexual não ser o tema de maior
polêmica, mas sim o caráter dúbio da garota de programa.
Para ligar Danny a Joel, precisamos lembrar do início da série, quando ele, braço direito nas sujeiras de Cláudio, não levou nenhum quinhão da bilionária transação envolvendo a empreiteira e a obra de transposição do Rio São Francisco. Sentindo-se humilhado por Cláudio, que lhe deu apenas uma moto como recompensa do serviço sujo, Joel planeja a derrocada do irmão mais velho, e até cita Pedro Collor. Sempre posando de bom moço, ele não levantou suspeita e assim pôde colocar câmeras no escritório e na suíte do hotel luxuosíssimo, onde Cláudio mantinha seus casos amorosos. Ao saber que o mais velho dos Drummond estava de caso com Danny, tratou de contratá-la também e aí uniu-se o útil ao agradável.
Joel
estava com o orgulho bastante ferido. Ele e Susana estavam dispostos a se
separarem, mas quando ele descobre que sua mulher já tinha outro, Joel muda de
ideia e começa a perseguir o novo casal. Tendo a recusa de Susana e o desprezo
de Claudio, o filho adotivo, um clichê bastante comum, decide que vai
arrebentar com a vida de todo mundo. E Danny cai na conversa do garoto
problema. Ao passar uma noite com Marília, não titubeia e apaga a bela como um
potente sonífero para poder fotografar todos os documentos que comprometem
Claudio em suas mais espúrias falcatruas com parlamentares do Congresso
Nacional.
O
que mais me chocou foi a falta de originalidade do roteiro para justificar a
traição de Danny - ter um apartamento no Rio de Janeiro, uma vez que Joel
tivesse todas as provas para ferrar o irmão. Uma mulher com tamanho poder de
sedução já tinha deixado o milionário com os quatro pneus arriados. O cara
prometera comprar seu "passe", dar apartamento, viagem internacional
e muito mais do que ela poderia imaginar. Entretanto, ela prefere arriscar tudo
isso, acreditando que iria sair safa desta história, e entregar Cláudio,
levando Marília junto, uma vez que ela era a laranja da pinacoteca adquirida
pelo empreiteiro ambicioso!
Correndo
por fora, temos a história dos patriarcas da família Drummond - Dionísio e
Norma. Ele, já impotente com sua esposa, reencontra uma namoradinha de infância
e consegue reviver o sexo da forma mais adolescente possível. Já Norma,
professora universitária, é cantada por um colega da faculdade e fica bastante
mexida. Mas não cede aos encantos do moçoilo, com idade para ser seu filho. No
final, Dionísio conta sua traição para Norma, que não o perdoa. Desgostoso, ele
tem um infarto e morre. O filho deles, Hugo, é casado com a bem-sucedida
médica Tânia. O que ninguém esperava era que a doutora costumava ter vida
dupla. O único filho do casal era, na verdade, filho biológico de Cláudio.
Tânia se envolve com o dono de uma clínica famosa, mas, vê a derrocada da sua
possível ascensão profissional quando, voltando do motel com o médico também
casado, impede o homem de salvar a vida de uma mulher que ele havia atropelado.
É o começo do fim de Tânia.
Como Felizes
para Sempre? foi uma releitura da não menos famosa série Quem Ama não
Mata, de 1982, o público já sabia de antemão que um crime selaria o final da
história. E assim foi. Com muita gente apostando na morte de Marília ou de
Cláudio, fomos surpreendidos pelo assassinato da Danny Bond. O último capítulo
não foi o melhor da minissérie. Todavia não devemos julgá-la apenas pelo seu
desfecho. Depois da morte do delegado aposentado, o Dionísio, a história ganha
contornos de tragédia anunciada, pois Joel e o advogado de Claudio armaram para
que o empreiteiro transferisse 58 milhões de dólares para a conta do
caçula.
Já
no cemitério, vimos um Joel transtornadíssimo e ameaçador. Ele não perdoa o
fato de Danny não querer passar para ele o dossiê que compromete Marília na
compra de várias obras de arte caríssimas. A própria não sabia de nada. Muito
ingênua esta Marília. E dessa forma, para conseguir o documento, ele arrasta
Danny até o cemitério, conta para a cunhada que Danny havia roubado os
documentos da casa de Cláudio para incriminá-lo, deixando a mulher desnorteada.
Não satisfeito, o rebelde sem causa envia para os celulares de Cláudio e
Marília as cenas de sexo que ambos tiveram com Denise. Chocados e transtornados
com a recém-descoberta de traição com via de mão dupla, ambos pegam uma arma e
vão em direção ao carro onde Joel e Danny discutem.
A
garota de programa agora arrependida e não querendo prejudicar Marília, ameaça
Joel com uma arma. Na confusão ouve-se um tiro e o vidro do lado do motorista
com um buraco de bala. Danny estava morta. Marília aproxima-se do corpo caído
no chão e em seguida chega Cláudio. Ele mira a arma para a cabeça da esposa,
mas não consegue puxar o gatilho. Joel sai em disparada com o dossiê na mão e
policiais aparecem de todos os lados, já que era o funeral de um ex-delegado, e
conduzem o casal para suas viaturas.
No
twitter, vários internautas se perguntavam - "Quem matou Danny
Bond?". Eis a pergunta que não quer calar. Na minha opinião, quem matou
Denise foi a Marília. Revendo a cena várias vezes, fica claro que o tiro veio
do lado oposto onde Denise estava sentada. Ou seja, veio do lado do Joel. Ele
se assusta com o estampido e olha para a direita, conseguindo ver o atirador.
Então, pega o dossiê e sai correndo. Segue a cena com Marília circulando o
carro para ver Danny estendida no chão. Sua fisionomia era botóxica! Não mexeu
um músculo. Apenas confirmou a tragédia - sua amada estava morta. Sim, Marília
não tem perfil de assassina e por isso mesmo parecia ilógico que ela cometesse
um crime passional. Marília amou verdadeiramente Danny Bond. Ela foi se
entregando aos poucos, com muita sutileza e certo pudor. Marília acreditava
piamente em Denise. Até o último momento, antes de partir para as vias de fato,
ela ainda acreditou quando Danny mentiu dizendo que não era amante de Cláudio.
E
Cláudio, como não amava ninguém a não ser ele mesmo, até tentou disparar um
tiro contra sue esposa, jogada de joelhos ao corpo de sua querida Denise. Só
que Cláudio é um fraco, um bobão que se achava esperto. Foi pego no esquema de
corrupção por ter subestimado seu irmão adotivo. Joel até cantou a pedra em um
dos capítulos com a frase "Imagina se o Hugo dá uma de Pedro Collor e
entrega o irmão". Joel estava falando de si mesmo... E Cláudio não se
tocou. Egocêntrico ao extremo, subjugou a inteligência das pessoas em sua
volta. Um corrupto não tem amigos. Tem urubus que o rodeiam esperando para
lascar o bico na carniça. Cláudio e sua escrotidão, falta de escrúpulos e por
se achar o Brad Pitt de Brasília, não se deu conta de que estava sendo usado e
manipulado o tempo todo. Inclusive pela amante detetive - a Bond! Aquela que
infiltrou em sua casa, vasculhou seus pertences e deu sua cabeça de bandeja
para o problemático menino adotado. Cláudio não conseguiu disparar o tiro
na esposa porque ele não a amava... Amava apenas a si mesmo. Era incapaz de
sair de si. Um homem frio, como um autocontrole invejável, iria se sujar
matando uma garota de programa, ou como disse Marília - um pedaço de carne que
se compra pela internet?
Se
quem ama não mata era a afirmativa da série original, esta releitura contradiz
a frase, pois Marília amava Denise. Ela era ingênua demais e acreditou no amor,
nas palavras sedutoras de Danny. Penso que Marília matou Danny não por ciúme
dela com Cláudio, mas por tê-la traído em suas esperanças... Marília morreu
junto com Danny e Denise foi a primeira a "matar" Danny. Fico a
pensar que Denise não sobreviveria sem sua personagem e que Marília sucumbiria
à falta desta mulher avassaladora! Mas o amor é traiçoeiro e o tiro saiu pela
culatra - na ficção, pelo menos, quem ama, mata!
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