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SALTO NO ESCURO
Seis de cada dez crianças brasileiras estudam segundo os dogmas do construtivismo, um sistema adotado por países com os piores indicadores de ensino do mundo.
Na revista Veja do dia 12 de maio de 2010, uma matéria importantíssima sobre os rumos da Educação vem nos alertar sobre os métodos de ensino e seus possíveis danos à formação dos atuais e futuros estudantes brasileiros.
Resumindo, a reportagem trata de um assunto espinhoso no nosso meio acadêmico e pedagógico: a adoção do Construtivismo, teoria de Jean Piaget, lançada nos anos 20 do século passado e que se trasnformou na cartilha de sucesso de alguns países de primeiro mundo. Mas foi só um entusiasmo. Esses países, como Inglaterra, França e Estados Unidos abandonaram de vez o construtivismo em algumas de suas etapas, tais como a alfabetização e o ensino da matemática. Mas o Brasil tem o péssimo hábito de copiar aquilo que não deu certo no primeiro mundo e nos enfiar goela abaixo.
Segundo a revista, o construtivismo não é um método, "é uma teoria sobre o aprendizado infantil" (p.118). Para o suíço criador da filosofia de ensino, o aluno é capaz de construir seus conhecimentos por um processo ligado às suas experiências do mundo real. O autor da reportagem metaforizou a teoria da seguinte forma:
Como não faz frio suficiente na Amazônia para congelar os rios, um aluno daquela região pode jamais aprender os mecanismos físicos que produzem esse estado da água apenas por ele não fazer parte de sua realidade. Isso está mais longe de Piaget do que Madonna da castidade.
Pesquisas realizadas e consolidadas pelo departamento americano revelam que as crianças submetidas à teoria construtivista na fase de alfabetização têm se saído pior do que os que são ensinados pelo sistema tradicional. Relembrando: "os construtivistas suprimem os fonemas e já mostram ao aluno a palavra pronta sempre associada a uma imagem [...] imaginando que ao ser exposto repetidamente àquela grafia que se refere a um objeto conhecido, o aluno acabe por assimilá-lo, como que por osmose."
A diferença é que na pedagogia tradicional há uma ênfase na lógica formal e a assimilação de conceitos para entender a realidade, ao contrário do construtivismo que foca a experiência no mundo real para derivar os conceitos.
Para agravar a situação, no Brasil os professores são mal formados e mal remunerados, muitas vezes não têm um norte, um currículo a seguir e vai ensinando o que acha ser certo. Não existe controle sobre isso nas escolas públicas. Isso eu falo por experiência própria. Não há diretriz curricular, projeto político-pedagógico. Mas há uma intensa cobrança por parte da prefeitura. São provas que analisam o desempenho dos alunos sem no entanto os professores terem recebido orientações sobre as disciplinas a serem ministradas. Não sabemos se somos tradicionais ou pseudo-construtivistas. Se formos levar em consideração a realidade dos nossos alunos, nunca que eles poderão sair do lugar, pois suas vivências são limitadas. O que vamos construir com eles? Campos de futebol? Galpão com passarela? Porque os meninos só pensam em ganhar a vida jogando bola e as meninas sendo modelo. Poderão eles um dia ouvir Chopin numa aula de artes ou teremos que tocar o Bonde do Tigrão, Axé, Pagode e afins?
Eu não utilizo dessa ideologia oportunista para excluir meus alunos daquilo que é bom e que é certo. Eles ouvem os clássicos da MPB, cantam, fazemos projetos sobre música. Sabem quem foi Tom Jobim, Milton Nascimento, Chico Buarque só para citar alguns exemplos. Entoam em coro Águas de Março e acham o máximo! Isso não é ser tradicional nem construtivista. É ser pedagogicamente correta. Infelizmente não há incentivo para que outros professores invistam neste tipo de projeto. Enquanto isso os índices de desempenho escolar do nosso estado vem caindo vertiginosamente na educação primária e fundamental das redes públicas de ensino. Como escreveu o repórter:
O conhecimento que nos trouxe até aqui é cumulativo, meritocrático, metódico, organizado em currículos que fornecem um mapa e um plano de voo para o jovem aprendiz. Jogar a responsabilidade de como aprender sobre os ombros do aprendiz não é estúpido. É cruel.
Depois disso, dizer mais o quê?
Reportagem de Marcelo Bortoloti
Querida Chris
ResponderExcluirAdorei o texto, como sempre, e o seu estilo de escrita.
Li a matéria da revista (reli agorinha)e continuei sem gostar de nada nele.
Considero que o sujeito e a Veja não tem a intenção de esclarecer nada de importante, nem de despertar interessae em conhecer algo em seus leitores. Ela é "formadora de opinião" e portanto ela é quem forma, faz a fôrma (pode o ^?) a qual as pessoas reproduzem sempre.
A matéria não explica nada sobre construtivismo nem sobre educação. Ela somente provoca náusea nos mais incautos sobre esse tal de construtivismo, desconhecido dos leitores enquanto uma linha de pensamento e de ação.
Dizer de coisas profundas com emtáforas não é um processo razoável de promover conhecimento, é rasteiro.
Eu cá proponho aos meus alunos algumas experimentos práticos, ou observações sistemáticas, como partida para discussões sobre determinados temas de estudo. Eles formam suas hipóteses, daí vão para o experimento ou observação e tentam construir conclusões. Elas tornam-se novamente hipóteses quando são confrontadas com as conclusões de outros e neste instante parte-se para uma estudo formal e sistematizado do conhecimento acumulado sobre o assunto, buscado sempre em livros científicos e didáticos. Isso dá jogo.
Quando sou inquirido por alunos sobre o valor e utilidade (ingênuo pragmatismo!) de se estudar certos temas (propagação de ondas, p.ex.) digo que os estou a convidar ao estudo dos saberes acumulados pela humanidade e que os possibilitam usufruir dos objetos e das técnicas mais avançadas.
Se isso dá jogo também, eu não sei, mas serve como alento e convencimento.
Quanto a proceder desta ou daquela maneira, nós professores temos que saber como promover educação nas escolas, dentro das condições postas, e às vezes apesar delas.
Considero a Veja uma formadora de opiniões e, a ver pela qualidade e objetividade dos textos sobre educação e política, sei bem que tipo de opinião ela pretende que seus leitores tenham.
O quadro comparativo do texto é sacanagem, discriminador, induz ao mau entendimento, direciona o leitor e é leviano. Não digo isso quanto apenas quanto à compreensão do que seja construtivismo apenas, mas sobre a concepção burguesa (será ideológico usar este termo?) que ela apresenta de educação.
Falar sobre temas importantes roga conhecimento, honestidade e imparcialidade, o que o autor demonstrou não ter.
Amei seus alunos cantando as músicas que gosto e sabendo que há mais coisas bacanas e interessantes do que se lhes oferecido pelos meios de comunicação em geral.
Grande Beijo.
Ana de Amestardan