Na maioria dos dias de nossas vidas, podemos escolher o que
vamos fazer. Porém, há outros em que você é compelida a aceitar uma escolha - a
de não ter escolha. E foi o que aconteceu na manhã deste dia 15 de janeiro
(esse janeiro promete!)... Ao levar o Neo para passear, fomos até o pet shop
para comprar ração. Logo na entrada da loja, vi em uma caixa de papelão,
totalmente abandonada e tremendo de frio, uma cachorrinha com luminosos olhos
verdes. Sim, verdes. Pasmem! Minha reação inicial foi a de indignação e
tristeza. Fiquei arrasada e notei que, pelo andar da carruagem, ela não teria
muito tempo de vida, mesmo estando à frente de uma clínica veterinária,
ignorada pelos funcionários que dizem já estar cansados de verem essa cena,
como se o pet shop fosse um depósito de cães rejeitados. Comprei a ração e
continuamos, eu e Neo, a passear pelas ruas do bairro numa manhã friazinha.
Cheguei em casa e contei para a minha ajudante, Maria Lúcia, o que eu havia
visto. Ela deu um sobressalto e soltou - "ah, não acredito. Vou lá."
Não é a primeira vez que Maria Lúcia, ou Lúcia para nós, fez um gesto tão
nobre: recolher um cão abandonado na rua. Quando ela chegou para trabalhar com
a minha família, o Thales tinha apenas 27 dias E já naquela época ela havia
recolhido sua primeira cachorrinha, a Téia. Lúcia me ajudou a criar meus filhos
e está conosco há quase 16 anos. Ela é uma dessas pessoas que a vida te dá a
oportunidade de ter como presente. Simples e de temperamento forte, a moça que
chegou tão jovem a BH para tentar uma vida melhor, conseguiu se estabilizar,
casou, tem uma filha de 10, menina que passou os dois primeiros anos em minha
casa, até o dia em que ficou muito grande para ser carregada diariamente de
Betim para Belo Horizonte. Maria Lúcia, Maria Luz... Eu não podia escolher
ficar com a cadelinha, que recebeu o nome de Brisa. Meu espaço físico é
bastante delimitado e mais um cachorro em meu apartamento poderia levar os
condôminos a uma advertência desnecessária. O Neo vale por quatro, com certeza.
Eu escolhi não escolher ficar com Brisa. Mas Lúcia estava aqui, no dia certo e
na hora exata. Uma terça-feira, justo no dia em que ela vem aqui pra casa.
Parece que estava determinado - Brisa esperava por Lúcia. Lúcia encontrou
Brisa. E essa história vai ficar para sempre em nossa memória. Há dias em que a
vida é boa!
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