domingo, 13 de janeiro de 2013

O Canto da Sereia


Ísis Valverde é um espetáculo de beleza e de talento!  A mineirinha saída do interior ganhou fama, respeito e reconhecimento do público que a acompanha nas teledramaturgias nacionais. Em seu mais novo trabalho, Ísis nos encantou com sua Sereia, a rainha do axé. Versatilidade saltando a olhos vistos! Lembro-me da angelical Ana do Véu, em Sinhá Moça; a hilária Raqueli de Beleza Pura; sem contar a Camila de Caminho das Índias e a piriguete Suelen em Avenida Brasil.

O Canto da Sereia foi mais uma daquelas minisséries globais que ficarão no ranking das histórias de sucesso. Sempre nos meses finais e iniciais de cada ano, somos surpreendidos por belas produções de poucos capítulos realizadas pela TV Globo. O livro homônimo de Nelson Motta, desta vez deu o tom do enredo a ser contado e apresentou, em clima de suspense noir, a trajetória do apogeu e queda de uma artista baiana.

Com interpretações brilhantes, um elenco afinado e uma prosódia soteropolitana verossímil, fomos capturados pelas redes das tramas e subtramas desta história não muito original e de fácil solução, porém, encantadora ao se tratar da beleza de sua personagem principal. Carisma e talento são dons natos e isso sobrou em Ísis Valverde. Sereia Maria de Oliveira foi assim registrada quando sua mãe sonhou que teria uma linda filha e essa filha seria protegida por Iemanjá, um dos orixás do candomblé. Todavia, o sonho de sua mãe também revelava que a menina teria sucesso e vida breve. E assim nasceu uma artista como a Bahia jamais havia visto. 

O universo underground de Salvador não foi poupado e cenas do submundo da fama e o preço que se paga por ela, denunciou a trinomia - sexo, mentiras e traição. Infelizmente, durante e exibição da trama, nos deparamos mais uma vez com campanhas nas redes sociais pedindo o boicote à série, como foi feito em Salve Jorge, novela de Glória Perez, promovida por ideologias religiosas radicais e intolerantes. O sincretismo religioso baiano vem da época da colonização do Brasil. Mas parece que a História deve, para alguns setores cristãos, ser abolida e ao invés de aprendermos a respeitar a diversidade, deveremos nos tornar intolerantes àquilo que não faz parte das nossas convicções.

O que muito me espanta é pensar que grupos radicais ortodoxos como os Talebãs e o Hamas só existiam no Oriente Médio, onde violentar mulheres é considerado um ato comum, onde o analfabetismo feminino não pode ser uma bandeira empunhada para a luta e se mata e se morre por questões religiosas. Enfim, é a globalização do fanatismo religioso chegando às terras tupiniquins. 

Enquanto isso, Ísis Valverde vai colhendo os louros de sua fama merecida e, reza a lenda, que quando alguém consegue vencer na vida às custas de seu próprio talento, Deus abençoa. Assim como Iemanjá abençoou Sereia em seu curto e vitorioso tempo de vida.